domingo, 28 de dezembro de 2008

Drumond

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade"

A Presença e a Falta - Seres de Luz

Em nossa jornada na vida, sempre surgem seres de luz que nos ilustram um caminho por onde possamos ser mais felizes e evitar sofrimentos. Com eles aprendemos com os próprios erros e a encontrarmos forças para poder continuar e levantar. Seus ensinamentos são baseados não em ideologias ou aprendizado refinado de faculdades ou institutos, mas são pura e simplesmente experiência de vida e sabedoria. É esse o nosso papel na Terra, encontrarmos esses seres de luz que possam nortearnos em nossa passagem. Um desses seres de luz foi embora da minha vida esse ano e levou consigo um pedaço do meu coração, mas o que foi aprendido e interiorizado como verdadeiro conhecimento ficou para sempre, assim como a lembrança de sua imagem de sapiência e sensatez. Recordarei sempre com saudades o que tanto aprendi e a minha maneira tentarei transmitir tanta força e sabedoria. Descanse em paz Vó querida. Guardarei-a sempre ao lado dos meus sentimentos mais nobres.

sábado, 27 de dezembro de 2008

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Minha Mãe

Minha mãe me ensinou a CONTRADIÇÃO...
FECHA A BOCA E COME!

Minha Mãe me ensinou sobre ANTECIPAÇÃO...
ESPERA SÓ ATÉ SEU PAI CHEGAR EM CASA!

Minha Mãe me ensinou sobre PACIÊNCIA...
CALMA!... QUANDO CHEGARMOS EM CASA VOCÊ VAI VER SÓ..

Minha Mãe me ensinou a ENFRENTAR OS DESAFIOS...
OLHE PARA MIM! ME RESPONDA QUANDO EU TE FIZER UMA PERGUNTA!

Minha Mãe me ensinou sobre RACIOCÍNIO LÓGICO...
SE VOCÊ CAIR DESSA ÁRVORE VAI QUEBRAR O PESCOÇO E EU VOU TORCER SUAS ORELHAS!

Minha Mãe me ensinou MEDICINA..
PÁRA DE FICAR VESGO, MENINO! PODE BATER UM VENTO E VOCÊ VAI FICAR ASSIM PARA SEMPRE.

Minha Mãe me ensinou sobre o REINO ANIMAL...
SE VOCÊ NÃO COMER ESSAS VERDURAS, OS BICHOS DA SUA BARRIGA VÃO COMER VOCÊ!

Minha Mãe me ensinou sobre GENÉTICA...
VOCÊ É IGUALZINHO AO SEU PAI!

Minha Mãe me ensinou sobre a SABEDORIA DE IDADE...
QUANDO VOCÊ TIVER A MINHA IDADE, VOCÊ VAI ENTENDER!

Minha mãe me ensinou os NÚMEROS...
VOU CONTAR ATÉ DEZ. SE ESSE VASO NÃO APARECER EU TE ESGANO!

Mainha - Brigadão

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O Conto do Nada

O conto do nada não é feito de nada, pois se assim o fosse, o nada de seu conteúdo, algo seria e anularia a sua essência. Nem tampouco é em branco, pois caracteriza-se cor, e, cor também já é algo. Vazio então? Não se configura tampouco como tal, já que vazia a sua mensagem não será, pois há algo a transmitir e a ensinar.Que tipo de conto do “nada” este deva ser então? Escolha o caro leitor o que quiser, pois esse conto é em sua homenagem e por isso o construo. Que tipo de nada o leitor gostaria de encontrar? Quando desejar ver algo que não signifique nada do que conheça e por alguns instantes de leitura deseje apenas ler algo que desconhece e que o instigue? Peço ao leitor que auxilie-me, pois falar sobre o que não se conhece ou não se vivencia é uma tarefa digna de um ardiloso trabalhador. Bom, para que não mais demoremos, discorro eu, sobre minha idéia e percepção do “nada”.Quando falo do nada, não desejo levantar uma questão que venha figurar em algum “anal” acadêmico. Mas, de um nada que procuro e que acredito também me procure. Esse “nada” é uma busca incessante a algo que desejamos no fundo que se manifeste, é amorfo, incolor, insípido, inodoro e, esperamos, indolor. Falar sobre o que se conhece é fácil. Difícil, quiçá, impossível é falar sobre o que não conhecemos, ou sequer sobre o que talvez nem exista. Esse nada que nos preenche toma-nos de assalto, em vários momentos e que se confunde com nossos sentidos e sentimentos. Não mais diferenciando um do outro. O que ser isso então? Com certeza é algo que todos já sentiram e também já buscaram em algum momento. É inexplicável e nos desnortea sobre se nos faz feliz ou se nos deixa triste – imparcialidade – seu nome maior. Para a existência de algo perceptível, precisamos de duas coisas principais: Sentidos e Razão – Analisemos um por vez – Os sentidos é a parte sensorial do corpo que nos permite avaliar e captar sensações do mundo exterior (distância, cor, sabor...). Só que os sentidos não são confiáveis e o que sabemos dos que nos rodeia é a percepção que o sentido nos impôs e não a que sabemos de fato. Assim sendo, os sentidos são descartáveis como forma de se perceber o que nos rodeia. Sobra então a razão, mas o que é a razão sem o auxílio dos sentidos, para que se crie uma base segura do que acreditamos ser verdadeiro? Assim, as duas matrizes que temos para o asseguramento da realidade, se desfazem em desqualidades. Portanto, chegamos a conclusão que o “nada” é o que vivenciamos o tempo inteiro e o significado de algo que preenchemos é totalmente falho e equivocado. Um mundo de incertezas? Não acredito nisso, creio que um mundo de nada que foi criado para que não nos sentíssemos tão sós e sem sentido. Agora caro leitor, discorra você sobre sua concepção acerca do “nada”.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Confissões - a quem possa interessar - de um Serial Killer

Foge-me a lembrança de quantas vezes apoderou-me o desejo de matar – Ah, desculpe-me, caro leitor, peço que não se assuste, pois asseguro-lhe que usei de todos os artifícios para eliminar tal desvio de conduta social, quiçá moral – Falhada a tentativa e diante da pressão constante em cometer tal ato, não tive outra escolha a não ser corresponder e se dentro do possível manter-me controlado, ao menos, não só para evitar suspeitas e posterior interferência policial. Mas, principalmente, por questões pessoais de princípio (solicito ao leitor que não ironize, pois o que digo se assevera a mais branca verdade). Discorramos primeiro sobre esse desejo que imputou-me essa vontade incontrolável: Não lembro-me a idade, mas divertia-me a visão da dor nos outros, certo episódio ilustra isso muito bem, eu e meu primo Bino, em férias na fazenda do meu avô, divertíamos numa árvore frondosa e com um cimo muito majestoso, quando num lapso de descuido ele caíra de uma altura considerável, teve uma fratura externa e uma dor lancinante o forçava a dar uivos gigantescos que beiravam a insanidade. Minha primeira atitude foi de estarrecimento - talvez uma educação forçosa de moral que mamãe introjetara em sua prole – Passado esse primeiro momento, passei a avaliar a atitude de meu primo diante da dor e desci da árvore rapidamente para poder visualizar a cena. O delírio que a dor provocava-lhe o colocava em êxtase, isso me instigava. Numa atitude meio que sem pensar, coloquei a mão em sua perna, na ponta do osso exposto, e quanto mais sentia aquele calor, aquela textura, aquele cheiro, era como se o extasiado fosse eu. Desejei fortemente ser o objeto que causava aquilo em Bino, que o levava a uma viajem fora da realidade e apresentava-lhe a um mundo que evitamos o tempo todo, da dor e do sofrimento. Na mesma noite repensei toda aquela cena e resolvi combater avidamente. Ao cabo de que um mês corrido, vociferações de mamãe acerca do que eu tinha e o por que emagrecia rapidamente, percebi que negava algo que estava além de minhas forças e então resolvi somente policiar-me acerca do imenso prazer que a dor dos outros causava em mim. Os velórios passaram a ser o meu Nirvana de alimentação do prazer, sempre me assaltava a alegria e a euforia, toda vez que chegava a notícia em casa de alguém que havia morrido. Então, quanto mais crescia e tentava a todo custo esconder tal desejo sádico, encontrei Daíra, menina recém-chegada com família da Síria e que passou a ser nossa vizinha de quadra na cidade. Daíra logo afeissuou-se a mim e tornamo-nos muito próximos, tínhamos uma amizade avaliada como normal, a qualquer um que visse-nos voltar da escola, jurariam de pés juntos que aqueles caminhos terminariam no altar. Ao cabo de alguns meses, assaltou-me o desejo de matar Daíra, e alimentei-o desesperadamente, a cada maneira que imaginava como seria, era tomado por uma sensação de prazer que me descontrolava por inteiro. Então, escolhida a forma, faltava-me o álibi e a desculpa para não se ir a escola. Forcei uma febre que convenceu minha mãe e franciscanamente no horário do fim de aula, pus-me em um terreno baldio, por onde cortávamos caminho quando da volta da escola. Religiosamente a esperei, e quase me perco em nervosismo quando a avistei...aquele seu andar, aquela descontração, aquele despreocupar com o que nunca haveria de imaginar...Talvez nem imaginasse o que lhe acontecia, talvez só se preocupasse em retirar a mordaça do rosto e do pescoço, além de rodopios em falso no ar, quanto mais o tempo passava, menor era o seu esforço e maior o meu nervoso. Senti-me nu quando ela parou de lutar e um grande vazio assaltou-me. Corri para casa, e num átimo de mamãe entrar no quarto, estava terminando de cobrir-me. Aquela noite não dormi, ardia em febre, delírios assaltavam-me e balbuciava coisas sem sentidos, tudo isso confirmado por minha mãe. O corpo de Daíra foi encontrado na mesma tarde, mas não me avisaram, pois disseram que eu estava muito doente, só sabendo da notícia no dia seguinte, quando mamãe contou-me, tomou-me uma convulsão de lagrimas que não conseguia conter, quanto mais caiam, mais o vazio que havia dentro de mim era preenchido e uma imensa vontade de matar novamente corroia-me. Eu só tinha treze anos.
As conversas de meninos da minha idade eram sempre sobre namoricos e beijocas e eteceteras, olhava aquilo como um adulto amadurecido e despresava-os pela insignificância de suas existências. Quando percebeu que também não envolvia-me com esses grupos , Jairisson, aproximou-se e discorreu acerca de como eram fúteis e vazios os outros garotos, passávamos horas discutindo sobre vários temas e uma sólida amizade se construiu – Não julgue o leitor que usei de demagogia para aproximar de minhas vitimas, avalie somente que os acontecimentos se desenrolavam sem nenhuma intenção – assim, Jairisson e eu voltávamos da escola, quando da sugestão dele de tomarmos banho de rio. Abusei é claro de certa confiança dele, quando menti acerca de que não sabia nadar, então o forcei a tentar me salvar quando fingia um afogamento, abracei-o no fundo do rio e por mais que tentasse se desvencilhar do meu abraço mortífero, a sua franzidez corporal o impedia, ao meu lado, postou-se seu problema de asma. Sai em disparada para a encenação do pedir ajuda e para a colocação em prática de mais um álibi. Após repelões dos meus pais e dois meses de castigo, foi como um combinado fosse feito, pois assim que finda a reclusão imposta e comprada à falácia de um acidente entre garotos, estava pronto para alimentar-me daquela sensação sem a qual não poderia mais ficar. Drogava-me da dor e da morte alheia.
Meu maior medo nunca fora em ser pego, mas de descontrolar-me, tinha a consciência do que fazia e convencia-me avaliando a situação como normal. Tentei procurar ajuda, mas sempre me diagnosticavam como rebeldia juvenil ou na prescrição de um antidepressivo. Não sei para quê, meu problema não era depressão, já que me resolvera muito cedo sobre o que era (e me aceitava assim) e o que queria (já o fazia).
Após algumas mortinhas sem importância, aos poucos fui ritualizando meus atos, nada muito refinado, coisas simples, por exemplo: Não matava na quaresma e nem no Natal, o que exigia grande esforço, já que aquelas reuniões familiares envolviam-me entre primas sibilisticas e porcelanadas, até o encontro de primos frondosos, que só de imaginar o barulho deles tombado, ou sua humildade implorando pelo ato mais primata de um ser vivo, o de estar e permanecer vivo. Só a lembrança do brilho do olho na hora do golpe final, compensaria qualquer presente caro de Natal ou o mais apetitoso pedaço de peru. Mas, como disse, profissionalizei-me, e seguia a risca meus próprios mandamentos. Ah, também não mais vitimava crianças.
Como moda parisiense, seguia tendências, ora selecionava só mulheres orientais, ora só escandinavos.
Lembro-me que oito anos atrás, a minha tendência, fixou-se em ingleses, percorria avidamente aeroportos e pontos turísticos sempre a procura, cheguei ao passo de solicitar visto inglês só para conhecer os funcionários da embaixada – é como já disse, resolvi me profissionalizar e fazer as coisas os mais discreto possível – Encontrei Peter, quando este visitava um parque grande na cidade. No tropeço do meu inglês, aproximei-me, Peter era maior que eu, porém mais magro. Devido a grande maioria dos meus atos, comecei a malhar e era dotado de uma força física a qual não aparentava o primeiro olhar. Percebi em Peter a mesma distribuição de força. Papo bom e companhia agradável relacionamo-nos por duas semanas, era o típico turista sexual em busca de aventuras em terras latinas. Pela primeira vez assustei-me com o que jamais iria prever. Numa de nossas conversas, percebi-o distante e com olhar endurecido, assim no último encontro – ele embarcaria na mesma tarde – se não conhecesse aqueles gestos – talvez o caro leitor não estivesse lendo esses escritos agora – No passeio em minha casa de campo, Peter atirou-se sobre mim e não com muito custo, desvencilhei-me, na segunda tentativa, golpeei-o no estômago e o chão foi sua recompensa. Começou a chorar descontroladamente e minha sensação de prazer aumentando exponencialmente. Como uma confissão religiosa e demonstrando nojo pelo que praticava, disse-me que sempre teve esse desejo, mas que só nos últimos anos teve coragem para começar a matar, sentia-se enojado e sempre só. O vício o corroia, o matava minusculamente a cada dia. Num ato materno, coloquei-o no meu colo e acariciava-o ao mesmo tempo em que dizia que não deveria se sentir enojado por algo que lhe era inato, deveria saborear cada ato e planejar com prazer cada vitima, senti-la, tocá-la, ganhar-lhe a confiança, até aos poucos começar a extrair o seu espírito vital, era como absorver o outro para dentro de si. Aos poucos, enquanto acariciava-o, o prendi de tal maneira, que quando ele percebeu que eu também era igual a ele, só que não um amador. O pânico tomou-o. Tentou se desvencilhar, mas já era tarde, sua força física nada podia contra minha satisfação existencial, a luta foi longa, mas admito que prazerosa, ao findo de trinta minutos, tudo estava terminando, aquele corpo branco de veias azuis e cabelos de fogo, jazia agora em meu pequeno altar de vitimas que me marcaram. Concordo que me assustou o fato de encontrar outro que me fosse igual e de certa forma concorrente, como troféu, arranquei-lhe os olhos – os mesmos olhos distantes e endurecidos – conservo-os em formol até hoje. Quanto ao corpo, joguei-o num grande rio que logo encontra o mar, nunca o encontraram.
Por precaução, me mudei para o interior, estava afim de novos ares. Essa minha nova fase, foi também um reencontro com a busca de uma qualidade na minha arte, passei a ser menos quantitativo e mais qualitativo, trabalhava cada vitima por semanas, às vezes, meses. Apreciava-lhes como um bom e velho vinho que se matura aos poucos enquanto a carne vermelha não é servida. Envolvi-me na cidade, participava de reuniões de moradores, de festas regionais e até de churrasco de vizinhos. Inicialmente não apetecia-me praticar meus atos em cidade tão maternal. Assim, viajava ao exterior, uma vez por mês, adorava o Chile, sempre calmo, sempre discreto, sempre prazeroso e dotado de prazeres incomensuráveis. Certa vez matei em grupo uma família de beira de estrada que atendeu ao pedido de um pobre viajante, valeu por um ano. Nunca esquecerei.
Voltando aos ares interioranos, Melissa, chegou a cidade em data próxima a minha e também se sentia meio perdida, incluimo-nos nas reuniões e churrascos de amigos, às vezes, sendo tomados como marido e mulher pelos outros. Melissa era veterinária e trabalhava para um grande haras da região. Fazíamos quase tudo juntos e passávamos horas divagando sobre coisas simples, como só olhar uma estrela, deitados no gramado do jardim. Dali a oito meses casamos. Na verdade, já era hora, beirava os trinta e corria o boato da beatice. Numa cerimônia simples, mas cheia de significados, trocamos juras até a morte – ah, até a morte, a morte. Antes minha única companheira, agora, rebaixada à qualidade de amante – Melissa se tornou fantástica no conviver e por longo tempo estive superado de minha vontade insuperável, isso mesmo insuperável. Certa noite acordei de madrugada e não conseguia parar de fitá-la, aquela beleza inocente, entregue a minha proteção. Melissa prendia-me, mas aquela noite, meu companheiro antigo de pré-adolescência acordara e pela primeira vez neguei-me ao ato. Talvez não o devesse ter feito, após isso, tudo se deteriorou, emagreci, emudeci e praticamente morri. Melissa não sabia o que pensar, fantasiou inúmeras hipóteses, até a de que tinha uma amante.
De todas as formas que pudesse sentir-me culpado, sentenciei-me. Afirmava a mim mesmo que nunca o faria, não com ela. Comecei a tomar remédio para controlar minha ansiedade, emagreci, encolhi, emudeci.
Ela sabia que havia algo errado, já não transávamos. Certo dia chorou e implorou em ajudar-me, desconversei. A abstinência da dor alheia corroia-me e a cada dia crescia a vontade na mesma impressão do tamanho do tempo.
Era sábado, estava que não me agüentava mais, quando deparei com suas malas na sala, de pasmo olhei e ali fiquei, já haviam se passado três meses desde que começamos a não mais interagirmos. Olhou-me fixamente e afirmou que se ia, mas não só por mim, mas por que tinha outra pessoa. Talvez esse tenha sido o momento do qual mais aproximei-me das minhas vitímas, pois era como se uma facada dilacerasse meu peito, minhas costas, minha alma. Meus atos tornaram-se não mais meus, mas de um eu interior que desconhecia e, minha irracionalidade alcançou o ápice. Não lembro a que momento começamos a degladiar, mas enquanto fazíamos, reduzíamos não só a sala a ruínas, mas o respeito tão sutilmente e amorosamente construído durante a relação. Seus momentos finais lapidaram-se em minha memória e creio que nunca mais os esquecerei, seu olhar se perdeu no meu, e, aquele mesmo brilho que dizia quando amava-me estava ali, estupefata. Senti-me sujo, com frio, nu. Odiei-me.
Fiquei ali, sem ação, as horas se passavam e eu diante do monstro que me tornei, matei a mulher que eu amava para alimentar pura e simplesmente a minha amada insaciável e pálida – a morte. Nunca me concebi aquela situação, pela primeira vez, senti-me vitima da minha própria obsessão. Era esse meu destino, tirar não só a vida, mas destruir o que amava e me dedicava. Se lágrimas fossem derramadas para lavar tão grande atrocidade, naquela noite derramei a todas. Ao raiar do sol de Domingo, levantei-me, coloquei fogo na casa e sai, sai para longe, para onde eu não me encontrasse mais. Fugia de mim mesmo a esmo.Dali a dez meses estava quase que recomposto de mim mesmo, reconstruí nova vida em país vizinho. Internei-me num mosteiro, onde presto serviços de veterinária que aprendi com Melissa e penintencio-me todos os dias, não como maneira de obter perdão dos pecados e baboseira e tal, mas por que nunca mais quero causar a morte daquilo que amo. Tenho tudo suportado em silêncio e admiro-me por estar conseguindo não amar. Quanto às mortes, só no meu mosteiro são oito. Vida que segue...